Vorcaro simulou venda para Fictor para tentar fugir do país, dizem investigadores
Por: Adriana Fernandes
Fonte: Folha de S. Paulo
Investigadores que atuam na operação que resultou na prisão de Daniel Vorcaro
suspeitam que a proposta de compra do Master pela Fictor Holding Financeira,
divulgada na segunda-feira (17), tenha sido uma espécie de simulacro para facilitar
a fuga do banqueiro do país.
Pessoas diretamente envolvidas nas apurações dizem que a ordem de prisão de
Vorcaro foi assinada às 15h de segunda. No mesmo dia, a Fictor divulgou que
pretendia comprar o Master em conjunto com um consórcio formado por
investidores dos Emirados Árabes Unidos.
Procurada pela Folha, a holding afirmou que só tomou conhecimento da operação
da Polícia Federal pela imprensa e que a compra do banco de Vorcaro estava
integralmente condicionada à análise e à aprovação prévia dos órgãos reguladores.
"Desde o início, conduzimos todas as etapas com total transparência,
responsabilidade e estrita observância aos ritos estabelecidos pelas normas legais",
diz, em nota. "Por se tratar de tema sob análise das autoridades, o consórcio não
comentará o mérito das investigações."
Uma pessoa próxima à empresa ainda afirmou que o BC (Banco Central) deveria
ter analisado a proposta da Fictor antes de liquidar o banco de Vorcaro.
Para os investigadores, houve vazamento da ordem de prisão, assim como da
intenção do BC de liquidar o Master. Alertado, Vorcaro teria acelerado a simulação
de compra para ter uma justificativa para deixar o país, ainda de acordo com essas
pessoas.
A reunião da diretoria do BC que decidiu pela liquidação do Master também
ocorreu na segunda. O voto dos diretores é secreto.
Os advogados do banqueiro negam a fuga e dizem que ele estava viajando a Dubai
para tratar da operação de venda com a Fictor.
No entanto, investigadores ouvidos pela Folha dizem que o jato particular no qual
Vorcaro embarcaria tinha como destino Malta, outro dado que reforça a hipótese
de que ele buscava fugir.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal encontraram desvios bilionários
por meio da compra de carteiras de crédito do Master pelo BRB (Banco de Brasília).
O negócio entre a instituição estatal e o banco de Vorcaro foi vetado pelo BC em
setembro.
De acordo com investigadores, o BRB transferiu R$ 12,2 bilhões para salvar o
Master sem nenhuma justificativa. O BRB teria repassado recursos para o Master
antes do anúncio da intenção de compra, em março. As transferências teriam
prosseguido até maio deste ano.
Do valor, R$ 6,7 bilhões seriam contratos falsos e R$ 5,5 bilhões, prêmios (que seria
o valor que supostamente a carteira valeria, mais um bônus).
Procurado pela Folha, o Master não respondeu ao pedido da reportagem. O
presidente afastado do BRB, Paulo Henrique Costa, não pretende se pronunciar
neste momento. A interlocutores, ele tem dito que foi o BRB que comunicou ao
BC que encontrou problemas na documentação das carteiras de créditos adquiridas
do Master.
Investigadores apontam a suspeita de que o Master tenha usado o negócio com o
BRB para esconder a fabricação de carteiras falsas de crédito consignado. Essa
fábrica inflou o balanço do Master, ainda de acordo com as investigações.
No início do ano, a supervisão do Banco Central identificou que existiam operações
estranhas na cessão dessas carteiras. O órgão chamou a direção do Master e do BRB
para cobrar explicações. As informações foram insatisfatórias e as investigações
foram aprofundadas. Os dados foram posteriormente repassados ao MPF
(Ministério Público Federal) e à PF, que abriu um inquérito.