27/11/2025

Offshores, fundos de investimentos e fintechs: entenda a rede de ocultação de ativos do grupo Refit

Por: Paulo Assad
Fonte: O Globo
Empresas sediadas no exterior ajudaram a Refit a ocultar o patrimônio
proveniente do esquema de fraude e sonegação alvo da megaoperação da
Receita Federal desta quinta-feira, segundo apontam os investigadores.
Registradas nos Estados Unidos, essas companhias aparecem como donas de
fundos de investimentos que recebiam valores obtidos ilicitamente pelos
suspeitos.
O montante adquirido pelo esquema era realocado em uma rede de empresas
laranjas, principalmente por meio de holdings, offshores, instituições de
pagamento e fundos de investimento.
A Receita Federal destaca que 17 fundos ligados ao grupo foram identificados
até o momento, totalizando um patrimônio de R$ 8 bilhões. Na maioria das
vezes, os fundos têm apenas um único cotista, que, por sua vez, é outro fundo
de investimento. Desse modo, os suspeitos criaram "camadas de ocultação",
dificultando o rastreio do fluxo de dinheiro.
A análise dos fundos levou os investigadores até entidades estrangeiras
estabelecidas em Delaware, nos EUA. O estado americano é conhecido por
criar facilidades para as empresas que queiram se estabelecer lá, concedendo um
elevado grau de anonimato e a ausência de tributação local, com a condição de
que as companhias não gerem renda em solo americano.
"Tal prática é comumente associada a estratégias voltadas à lavagem de dinheiro
ou blindagem patrimonial dos envolvidos", disse a Receita Federal, que
acrescentou: "Já foram identificadas mais de 15 offshores nos EUA, que
remetem recursos para aquisição de participações e imóveis no Brasil,
totalizando cerca de R$ 1 bilhão".
Segundo o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do estado de
São Paulo, diversas empresas ligadas ao grupo agiam como "interpostas
pessoas" (laranjas) para evitar o pagamento de ICMS:
"As ações criminosas se dão através da reincidência no descumprimento fiscal,
da utilização de empresas com vínculos societários e operacionais e da
simulação de operações interestaduais com combustíveis", diz a nota divulgada
pelo comitê.
Importadoras, que também atuavam como laranjas, eram usadas para adquirir
nafta, hidrocarbonetos e diesel do exterior com dinheiro de formuladoras e
distribuidoras do grupo. Entre 2020 e 2025, cerca de R$ 32 bilhões em
combustíveis foram importados pelos investigados, e as empresas ligadas ao
grupo "sonegavam reiteradamente tributos em suas operações", de acordo com
a Receita Federal.
O dinheiro era concentrado em empresas financeiras do próprio grupo. Entre
o segundo semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025, mais de R$ 72
bilhões foram movimentados por esse núcleo, formado por uma empresa
financeira "mãe", que controlava empresas menores. As chamadas "contasbolsões"
também foram usadas pelo grupo, que explorou a brecha regulatória
para dificultar a análise do fluxo de dinheiro.
Essa estratégia também foi identificada pelos investigadores na Operação
Carbono Oculto, que mirou o uso do mercado de combustíveis para lavar
dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Receita Federal, o
grupo alvo da megaoperação desta quinta-feira mantém relações financeiras
com empresas e pessoas investigadas nessa primeira operação.