15/04/2021

GPC sobe na bolsa e tenta consolidar reestruturação

Por Rita Azevedo e Nelson Niero — De São Paulo
Fonte: Valor Econômico
A GPC Participações, companhia de capital aberto que engloba os negócios
da família Peixoto de Castro, multiplicou seu valor de mercado nos últimos
meses, na esteira do bom desempenho da siderurgia e construção civil.
Depois de sair de uma grave crise financeira que o levou à recuperação
judicial, encerrada em novembro, o grupo que tem suas origens na década
de 1930 saiu-se de resultados recordes no ano passado e agora tenta se
posicionar no mundo pós-pandemia e convencer os investidores de que
tem fôlego para se consolidar num novo patamar.
A mudança nos números não passou despercebida. No fim do ano, a
empresa completou dez trimestres consecutivos de lucro. A ação ordinária,
a mais negociada, subiu 420% nos últimos 12 meses e bateu no pico
histórico de R$ 27,18 em janeiro. Ontem, fechou em R$ 23,55, queda de
1,46%. O valor de mercado passou de R$ 143 milhões para R$ 746 milhões
no período.
Com esse avanço, o papel hoje é negociado pelo equivalente ao seu valor
patrimonial (era 25% disso no começo de 2020), o que indica, grosso modo,
espaço para mais valorização, já que o mercado trabalha com expectativas,
e não só com resultados passados, e costuma pagar um prêmio sobre o
valor contábil.
O engenheiro Rafael Alcides Raphael, que entrou no grupo em 2011 e
assumiu o comando da holding em 2019, tem agora o desafio de aproximar
a companhia do mercado financeiro, atrair investidores e mostrar que
melhora da situação financeira veio para ficar. Ele tem a mostrar números
como a receita de vendas de R$ 994,7 milhões em 2020, aumento de 25%
em relação ao ano anterior, e o lucro líquido que saltou mais de seis vezes,
para R$ 143,9 milhões.
A divisão química, que fabrica produtos como resinas usadas pelo segmento
de painéis de madeira, responde por mais de 60% do faturamento. O
restante tem como origem a unidade que produz tubos de aços de carbono
voltadas para empresas de óleo e gás, construção civil, infraestrutura e
automobilísticas.
Os resultados refletem o bom momento para os produtos de aço e a
melhora do segmento de construção civil, segundo Raphael. Medidas
tomadas em meio ao processo de recuperação judicial também
contribuíram para o desempenho, como a venda de ativos não essenciais,
entre eles a parte de um terreno em Benfica, zona norte do Rio, que rendeu
R$ 27,7 milhões no ano passado.
Os problemas financeiros da GPC começaram com a crise de 2008 e
desaguaram na recuperação judicial em 2013. A dívida líquida, no fim de
2015, era equivalente a 20 vezes o lucro operacional antes de juros,
impostos, depreciação e amortização. No fim do ano passado, a relação
estava em níveis civilizados de 1,8 vez.
Em 2016, em meio a uma recessão histórica, a GPC sofreu mais um golpe
quando o acionista e presidente do conselho, Paulo Cesar Peixoto de Castro
Palhares, foi denunciado na operação Lava-Jato e teve que deixar a
empresa. Em março de 2017, ele voltaria ao cargo após ser absolvido pelo
juiz Sergio Moro por falta de provas.
Para este ano, as perspectivas são positivas mesmo com o avanço da
pandemia da covid-19, diz Raphael, considerando o crescimento do setor
imobiliário e outros fatores como a entrada de novas companhias no
mercado de óleo e gás, em decorrência do processo de desinvestimento da
Petrobras.
“A pandemia não está totalmente superada, mas temos hoje uma
visibilidade maior do que tínhamos em 2020, com a expectativa de
vacinação”, diz Raphael. Entre os planos para o ano está o investimento de
R$ 40 milhões, que serão usados sobretudo na expansão da capacidade da
divisão química, e o desenvolvimento de novos produtos, como tubos
usados para equipamentos de energia solar.
O mercado de capitais é também uma nova fronteira a ser explorada.
Raphael diz que tem conversado com investidores para apresentar a
empresa, mas prefere não adiantar quais os planos. O controle familiar não
é um problema para a administração da companhia, segundo ele. “Os
donos optaram pela gestão profissionalizada, que vem dando resultados”,
diz.
Com cinco membros, o conselho de administração tem dois que não foram
eleitos pelo controlador, segundo informações enviadas à Comissão de
Valores Mobiliários (CVM).
A falta de liquidez das ações continua sendo uma questão a ser resolvida.
Em agosto de 2020, a empresa fez um desdobramento dos papéis, na
proporção de cinco para um. Com isso, o volume médio movimentado com
as ações diariamente aumentou, passou de R$ 300 mil para R$ 3,4 milhões
no segundo semestre. Mais recentemente, em março, o banco BTG Pactual
foi contratado como formador de mercado dos papéis.
A GPC Participações foi criada no fim dos anos 90 para agregar a Apolo
Tubos, de 1938, e a GPC Química, fundada em 1954. A GPC Química tem
fábricas em Araucária (PR) e em Uberaba (MG), além de parceria com a
Petrobras na Metanor/Copenor, em Camaçari (BA). No setor de aço, são
duas fábricas, no Rio e em Lorena (SP).