17/03/2021

Controlada da Queiroz Galvão pede recuperação

Por Ana Paula Ragazzi — De São Paulo
Fonte: Valor Econômico
A Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário (QGDI) deverá apresentar
hoje pedido de recuperação judicial, apurou o Valor. O processo afeta
apenas esse braço, ligado a empreendimentos comerciais e residenciais, e
não atinge as outras empresas do grupo, como a construtora, de acordo
com fontes.
A QGDI convive hoje com um endividamento de curto prazo de R$ 1,2
bilhão, a maior parte dele concentrado em bancos e “distratantes” -
pessoas que compraram imóveis, desistiram do negócio e discutem nesse
momento valores de devolução. Foi essa situação que levou a empresa,
assim como outras do setor, a enfrentar dificuldades em anos recentes e
também gerou mudanças na legislação, em 2019, colocando regras mais
claras e multas para a rescisão de contratos. Em 2014, os distratos na QGDI
eram da ordem de 20%, mas as devoluções atingiram patamar de 90% em
2016 - esse pico coincidiu com a época de maior número de lançamentos
de empreendimentos da empresa que naquela época, possuía VGV ao
redor de R$ 1,5 bilhão ao ano.
Essa situação originou a maior parte do desequilíbrio, contornado em
alguma medida com capital próprio, mas que levará agora a empresa ao
pedido de recuperação judicial. A pandemia não teria sido, de acordo com
as fontes, fator determinante para esse processo. Procurada, a QGDI não
deu entrevista.
Deverá pesar a favor da QGDI no processo o fato de a empresa não ter hoje
nenhum empreendimento em construção. Como todas os apartamentos e
salas foram entregues, não haverá a discussão, comum a recuperações
judiciais no segmento sobre patrimônio de afetação. Essas companhias,
normalmente, constituem uma sociedade de propósito específico para
cada empreendimento, que funciona de forma independente.
O plano da QGDI será ganhar um fôlego extra para manter a empresa viva.
A companhia possui perto de 500 unidades em seu estoque, que teriam
valor estimado em R$ 180 milhões, mais um banco de terrenos avaliado em
R$ 4,5 bilhões. Por essa razão, avalia que, conseguindo ajustar seu
endividamento no curto prazo, será capaz de retomar os lançamentos e dar
continuidade aos negócios.
A empresa tem 44 anos de vida vendeu e construiu cerca de 25 mil unidades
em 158 empreendimentos em cidades como Recife, São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador e Brasília.
A recuperação judicial do braço imobiliário do conglomerado não deverá
entrar em colisão com a reestruturação da dívida do grupo, fechada em
2019 e que envolveu 12 bancos credores - esse acordo vem sendo cumprido
conforme o combinado, apurou o Valor. Essa renegociação foi necessária
por conta de dificuldades depois da investigações da Operação Lava-Jato
envolvendo propinas em obras públicas, assim como outras empreiteiras
do país. Esses problemas foram agravados com enfraquecimento da
atividade econômica.
Além da QGDI, o segmento de energia do grupo se envolveu em uma
recuperação judicial, já encerrada; e a Queiroz Galvão tem 50% do estaleiro
EAS, que também se encontra nessa situação.