29/01/2024

Após taxação de fundo exclusivo, aposta é em carteira administrada

Por Liane Thedim — Do Rio
Fonte: Valor Econômico
De olho no dinheiro que começa a “se espalhar” no mercado após a taxação
dos fundos fechados exclusivos, bancos e gestoras estão apostando no nicho
de carteiras administradas e já registram aumento significativo na procura.
Diante da recente sofisticação e ampliação do mercado de crédito privado, com
diversos produtos isentos de imposto de renda, o campo a explorar é farto. O
BTG Pactual registrou em 2023 aumento acima de 50% no total sob gestão em
carteiras administradas frente ao ano anterior. A XP não revela o percentual,
mas diz que já soma R$ 4,5 bilhões no segmento. Santander, Itaú Asset e
Portofino Multi Family Office falam em crescimento significativo e planejam
até levar o produto ao varejo.
Rogério Freitas, chefe da XP Advisory, diz que, de agosto para cá, a instituição
identificou o potencial do segmento e incrementou o produto. E, segundo ele,
o patrimônio sob gestão vem apresentando crescimento constante de dois
dígitos. A XP ampliou as opções de perfil e incluiu produtos estruturados e
alternativos, como Fiagros e fundos imobiliários, para patrimônios a partir de
R$ 5 milhões.
“Uma alocação em um fundo de investimento em participações em
infraestrutura, por exemplo, agora sai do veículo exclusivo e vai compor a
carteira administrada.” Ele avalia que exclusivos fechados abaixo de R$ 15
milhões podem migrar para a carteira, já que o custo de manutenção desses
fundos é alto. “A sofisticação e o amadurecimento do mercado brasileiro
aumentaram a necessidade de um time de gestão. Vamos voltar a ver o processo
de ‘financial deepening’ [aprofundamento e aumento da oferta dos serviços
financeiros], após dois anos de estabilização.”
No Santander, Gustavo Schwartzmann, executivo-chefe de investimentos do
private banking, diz que está havendo aumento na procura tanto pela carteira
administrada de isentos (certificados de recebíveis imobiliários, os CRIs, do
agronegócio, os CRAs, e debêntures de infraestrutura) quanto pela mista, que
inclui, por exemplo, ações, multimercados e renda fixa, o que a torna, na prática,
muito parecida com os fundos exclusivos.
De acordo com o executivo, metade da base dos fundos exclusivos fechados
está buscando opções, sendo que de 30% a 40% vão migrar para fundos de
previdência, renda variável e crédito privado, e os 10% restantes devem montar
carteiras administradas na pessoa física. “A maioria optou por pagar o imposto
antecipado de 8% e agora estuda otimização tributária”, afirma.
Vamos voltar a ver o processo de ‘financial deepening’ após dois anos de
estabilização”
— Rogério Freitas
Patrimônios a partir de R$ 2,5 milhões podem ter acesso às carteiras
administradas do Santander, que tem hoje R$ 400 bilhões sob gestão na divisão
de fortunas. Ele conta que, nos últimos seis meses, a procura vem crescendo
pelos produtos incentivados, mas ressalta que “não é porque é isento que não
tem risco” e que é preciso tomar cuidado para não fugir do perfil de risco.
“Temos uma curadoria rigorosa na seleção de empresas com classificação de
nível AA para cima. A ideia é a carteira ser diversificada, incluindo de 40 a 50
títulos isentos, com retorno de 1% acima da NTN-B, cujo rendimento está em
IPCA mais 5,55%.”
Eduardo Saraiva Torrescasana, responsável pela área de distribuição para
clientes da área private e terceiros na Itaú Asset, diz que a gestora lançou no
segundo semestre de 2023 as primeiras carteiras administradas de debêntures
incentivadas, mas, segundo ele, os fundos exclusivos focados nesses papéis vêm
crescendo numa velocidade maior. Isso porque, pela legislação, eles não
precisam ser 100% compostos por papéis de infraestrutura. Nos primeiros seis
meses, não há exigência de alocação. Depois, 33% podem estar em outros
títulos e, ao fim de dois anos, 15%. “É uma casca de debêntures incentivadas,
mas com um escopo maior, que nos dá mais capacidade de buscar retorno.”
Fayga Czerniakowski Delbem, superintendente de crédito privado da asset,
explica que a gestora usa o tempo de enquadramento para montar um
“pipeline” saudável. “Somos a maior asset em crédito. Temos mais de 300
emissores no portfólio e, por isso, podemos ter mais seletividade. E os fundos
também podem compor a carteira administrada.”
Na Itaú Asset, as carteiras podem ser montadas para patrimônios a partir de R$
15 milhões, mas Torrescasana comenta que a gestora quer ampliar para R$ 5
milhões e “eventualmente atingir o varejo”. Ele comenta que investidores que
tinham fundos fechados estão migrando com força para os exclusivos de
debêntures incentivadas, além de previdência. “Mas, se conseguirmos baixar o
valor, teremos mais.” Hoje a gestora tem R$ 6 bilhões e 22 mil cotistas em
fundos abertos de debêntures incentivadas, um avanço de 130% frente a 2022,
mais R$ 1 bilhão do fundo de infraestrutura listado na B3. E pode chegar a R$
10 bilhões em 2024.
Já no BTG, as carteiras administradas no varejo entraram no foco em agosto,
com a compra da Magnetis, uma das primeiras empresas de tecnologia
financeira dedicada a investimentos no país. Com R$ 850 milhões sob
administração, a empresa está em processo de integração ao portfólio do banco,
que está definindo o mínimo para aplicar. A ideia é que fique entre R$ 50 mil e
R$ 100 mil, diz Rogério Karp, chefe de B2C do BTG.
Luciano Juaçaba, sócio e gestor da BTG Pactual Portfólio Solutions, explica
que as carteiras administradas começaram no banco em 2017, a partir de R$ 5
milhões. No ano passado, esse valor caiu para R$ 500 mil. “As debêntures de
infraestrutura eram menos líquidas e se popularizaram bastante, mas ativos de
crédito precisam de acompanhamento muito próximo. Em 2023 conseguimos
passar pelos problemas vistos no mercado sem maiores sustos.”
Segundo ele, os clientes de altíssima renda vêm optando por fundos exclusivos
de infraestrutura e carteiras administradas de ativos isentos. E os não isentos,
como ações e FIDCs, ficam nos fundos exclusivos que já existiam. Os fundos
de previdência completam o portfólio. Juaçaba não revela quanto tem em
carteiras administradas, apenas que o BTG tem hoje sob gestão em renda fixa
isenta R$ 5 bilhões na área de Portfólio Solutions. Na Magnetis, Karp vê
potencial para a carteira avançar a R$ 9 bilhões nos próximos 12 meses.
Eduardo Castro, executivo-chefe de investimentos da Portofino, diz que todos
os seus clientes têm carteiras administradas no cardápio do patrimônio sob
gestão. Ele frisa que o fundo exclusivo fechado continua com vantagens, como
a compensação de perdas e ganhos entre os ativos que o compõem. “A gente
sempre combinou carteira com fundo exclusivo. Ela agora está chamando a
atenção dos bancos porque estão sendo pressionados pelos clientes. O custo da
carteira é muito menor que o do fundo exclusivo, que não oferece mais o
benefício de reinvestir o que iria para pagar impostos.”