Além de ter ligação com futebol, alvo da PF também passou pela Trump Realty Brazil
Por: Letícia Mori
Fonte: Jota Tributario
Conhecido no circuito financeiro brasileiro por ter feito a Reag Investimentos
crescer de forma vertiginosa e misteriosa, o empresário João Carlos Falbo
Mansur agora está sob os holofotes por causa da megaoperação deflagrada na
quinta (28/8) que investiga a atuação da facção criminosa Primeiro Comando
da Capital (PCC) no setor de combustíveis.
A Reag, fundada por Mansur em 2012, foi um dos alvos da operação Carbono
Oculto, que investiga um esquema bilionário de fraudes, sonegação fiscal e
lavagem de dinheiro do PCC que teria movimentado mais de R$ 52 bilhões.
Com participação da Receita Federal, Ministério Público do Estado de São
Paulo (MPSP), Ministério Público Federal e polícias federal, civil e militar, a
operação atingiu diversos fundos de investimento e fintechs. Endereços na
Avendia Faria Lima, em São Paulo, conhecida por ser um importante centro
financeiro, foram o destino de alguns dos 350 mandados de busca e apreensão
em oito estados (SP, ES, PR, MT, MS, GO, RJ e SC) realizados pela PF.
Entre os envolvidos na investigação, o nome de Mansur se destacou não apenas
porque a Reag é a 8ª maior gestora de fundos do Brasil (segundo a Associação
Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Anbima), mas
pela ampla atuação do empresário, que tem uma forte relação com vários times
de futebol e já trabalhou para empresas conhecidas, como a Monsanto, a PwC,
a WTorre e a Trump Realty Brasil.
A empresa com o nome do presidente americano Donald Trump foi criada em
2003, mas o contrato com Trump só durou até 2006 e o projeto fracassou antes
de conseguir concluir um único empreendimento imobiliário — embora tenha
rendido pelo menos U$ 1 milhão para Trump em licenciamento, mais um valor
não divulgado por quebra de contrato. Mansur cita a passagem pela empresa
em sua biografia e currículo, e mostra sua opinião sobre o presidente americano
em entrevistas que dá com frequência à imprensa.
Em uma entrevista à Jovem Pan News há três semanas, o empresário afirmou
acreditar que o alvo de Trump com o tarifaço — o aumento para 50% nos
impostos sobre produtos importados do Brasil — na verdade eram os BRICS
(Brasil, Rússia, Índia e China). “Eu acho que o Brasil é um bode expiatório”,
disse ele.
A relação de Mansur com times de futebol entrou em foco após a deflagração
da operação da PF. Embora não faça parte da atual administração, Mansur é
uma figura importante no Palmeiras, membro eleito do Conselho de Orientação
e Fiscalização (COF), um órgão independente responsável pela fiscalização das
contas do clube. Ele é parte do grupo que apoia a atual presidente, Leila Pereira,
e também atuou na criação do Allianz Parque, o estádio do time.
A Reag também participou da administração da Arena do Grêmio e ainda
administra a Arena Fundo FII, que faz a contabilidade da Neo Química Arena,
o estádio do Corinthians. A gestora de investimento também é responsável
pela gestão e por um investimento na Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do
Juventus, cuja constituição foi aprovada pelo time em junho deste ano.
Através de um braço da empresa, a Reeve, a Reag Investimentos também tem
laços com a Portuguesa. A Reeve investe no projeto Novo Canindé, uma
reforma do estádio do time prevista para começar em 2026, ampliando a
capacidade do estádio e construindo um complexo com clube social, edifício
garagem para 4600 carros, hotel e boulevard gastronômico. A Reeve tem
previsão contratual de gerir o estádio por 50 anos. O JOTA procurou a
Portuguesa, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
O candidato derrotado na última eleição para a presidência do Corinthians,
Antônio Roque Citadini, exigiu um esclarecimento pelo time. “A Reag entrou
como administradora do Fundo da Arena em 2023 substituindo a BRL Trust.
O Corinthians não reconhecia uma dívida de 100 milhões, com a chegada da
REAG, passou a aceitar a dívida. Quem trouxe essa gente ao clube?”, afirmou
Citadini.
Por enquanto, no entanto, os times não se pronunciaram. O Palmeiras diz que
não vai comentar o assunto no momento. O Corinthians, o Juventus e a
Portuguesa não responderam o contato do JOTA.
Segundo a Polícia Federal, fundos administrados pela Reag, como Mabruk II e
Hans 95, foram usados pelo PCC para fraude e lavagem de dinheiro de cerca
de R$ 250 milhões.
A Reag publicou um fato relevante, ou seja, um esclarecimento aos investidores,
na quinta (28/8), afirmando que está colaborando “integralmente com as
autoridades” e disponibilizando as informações e documentos requisitados.
Depois, a empresa enviou uma nota à imprensa afirmando que agiu “de forma
regular e diligente” nos fundos investigados pela PF para os quais “atuou como
prestadora de serviços” e que “tais fundos foram, há meses, objeto de renúncia
ou liquidação”.
“A Reag permanece em atuação com seu rigor técnico, ética e transparência,
em estrita conformidade com as normas e exigências da lei e dos reguladores
do sistema financeiro”, afirmou a empresa.