Antonelli forma Grupo de 27% do Controle do Conselho Petrobrás

Fonte: Valor Econômico
O banqueiro Juca Abdalla foi o protagonista da assembleia de acionistas da
Petrobras que definiu, na madrugada de ontem, a composição do conselho
de administração da estatal até 2022. O jogo das cadeiras manteve a União
com sete assentos, mas o governo teve frustrada a tentativa de ampliar sua
presença no colegiado e, pelo contrário, viu os minoritários - por meio de
um voto múltiplo articulado por Abdalla e investidores estrangeiros -
aumentarem de dois para três cadeiras a sua representatividade no CA.
A nova composição do conselho da Petrobras ajuda a reduzir as distorções
da representatividade dos minoritários dentro do colegiado da companhia
- que tem 49,5% de seu capital votante no mercado, mas que tinha até
ontem apenas 20% de seus assentos no CA ocupados por membros eleitos
por minoritários. Com o resultado da eleição de ontem, esse percentual
sobe para 27%. Resumindo a equação: o acionista controlador (7) e os
empregados (1) mantiveram o mesmo número de assentos, enquanto os
minoritários ganharam uma cadeira, preenchendo vaga vazia.
A disputa representou também a entrada de Abdalla no conselho da
Petrobras. Até então os dois nomes que representavam os minoritários no
colegiado - Marcelo Mesquita e Sônia Villalobos - eram ligados ao fundo
Leblon. Dessa vez, contudo, os fundos de ações Dinâmica Energia e
Banclass, de Abdalla, conseguiram emplacar dois nomes: os advogados
Leonardo Pietro Antonelli, eleito por voto múltiplo; e Rodrigo de Mesquita
Pereira, eleito por votação em separado dos controladores pelos
preferencialistas e que desbancou Sônia Villalobos - que tentava a
reeleição. O terceiro nome escolhido pelos minoritários foi Marcelo
Mesquita, reeleito pelos ordinaristas.
José João Abdalla Filho, conhecido por Juca, 74 anos, é dono do Banco
Clássico e é um dos maiores acionistas do setor de energia no Brasil, com
participações em empresas como Eletrobras, Cemig e Eneva. Parte da
fortuna dele foi herdada do pai - o antigo industrial e político paulista J.J.
Abdalla. Apesar da pouca visibilidade do Clássico, seu proprietário ficou
conhecido por causa das disputas judiciais envolvendo um terreno de 717
mil metros quadrados desapropriado em 1989 pelo então governador de
São Paulo, Orestes Quércia, e onde, hoje, está o Parque Villa-Lobos. A
Justiça decidiu que Juca tinha direito a 70% do imóvel. A indenização foi
fixada em R$ 1,7 bilhão em valores da época. Ele é frequentador do Country
Club do Rio, reduto da elite carioca, e é apaixonado por desfiles das escolas
de samba.
De acordo com os dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o
Dinâmica Energia tinha patrimônio de R$ 8,78 bilhões em junho e possuía
49,365 milhões de ações preferenciais e 42,2 milhões ordinárias da
Petrobras. O único cotista do fundo é o banco Clássico. Já o Banclass, com
patrimônio de cerca de R$ 345 milhões, tem 7 milhões de ações PN da
estatal. O Clássico tem, ainda, 9,86% da Engie Brasil Energia e 5,09% das
ações ON a Eletrobras, por exemplo. Procurado para comentar as
indicações, Abdalla não foi localizado.
Leonardo Antonelli disse ao Valor que o voto múltiplo foi possível graças à
articulação de Abdalla com fundos estrangeiros - o banqueiro detém 1% das
ações da Petrobras - e que o número expressivo de votos na sua
candidatura é uma “demonstração clara de que a paridade do conselho
deveria ser mais isonômica”. Ao comentar sobre a decisão do Clássico de
concorrer com outros acionistas, na indicação de representantes no
colegiado, ele disse que Abdalla sempre defendeu a necessidade de o
“próprio acionista minoritário estar representado”, nas palavras do próprio
banqueiro, por um “dono no Conselho”. “O momento é de união e
serenidade. Existe uma política clara por parte do governo, chamada por
alguns de desinvestimento. Então, não se trata de preocupação, mas, sim,
de atenção a fim de atender-se aos melhores interesses da própria
companhia, respeitando o direito dos acionistas minoritários”, comentou,
ao ser questionado se os minoritários têm preocupação na relação do
comando da Petrobras com a União.
Agora com três representantes dos minoritários, o conselho da Petrobras
passa a ter um bloco independente mais reforçado, na visão de
especialistas em governança. Apesar de os minoritários não serem maioria,
pode haver mais dissidência em questões específicas. “Em uma empresa
como a Petrobras, se aparecer um momento de grande divergência, ao ter
um número expressivo de representantes de minoritários, a dinâmica pode
ficar mais interessante”, disse um conselheiro da estatal.
Em tese, a presença maior de minoritários tende a dar mais poder de voz
nas deliberações do colegiado, o que pode representar, para a União,
dificuldade maior na apreciação de temas mais sensíveis que envolvam
interesses do governo na gestão da companhia. “O sucesso desta iniciativa
leva o conselho da empresa a refletir melhor sua composição societária”,
disse o advogado Raphael Martins.
Em defesa das indicações do controlador, fonte do conselho da estatal
argumenta que o fato de o governo indicar nomes para o CA não significa
que ele exerça influência sobre o colegiado. Disse que, dos sete
conselheiros da lista da União que foram eleitos, quatro são independentes
- as exceções são o almirante Eduardo Bacellar, o chairman; Roberto
Castello Branco (presidente da Petrobras); e Paulo César de Souza e Silva.
Há também quem relativize os efeitos de uma presença maior dos
minoritários no colegiado. “Um minoritário no conselho sempre agrega à
empresa? Não dá para dizer isso. É preciso ter visão de longo prazo”, disse
Henrique Bredda, gestor da Alaska Asset. “Há casos em que o minoritário
está preocupado com a cota dele no fim do mês e pode induzir a companhia
a tomar atitudes ruins no longo prazo”, afirmou. “O que vai resolver os
problemas de uma empresa é assegurar que o conselho funcione e não seja
disfuncional", disse um especialista em governança.
O Valor apurou que membros do comando da Petrobras saíram da eleição
com sentimento de frustração. A vitória dos minoritários ocorreu numa
assembleia bastante tumultuada e que entrou pela madrugada. A União
sugeriu, na ocasião, oito nomes: Bacellar, Castello Branco, João Cox Neto,
Maria Cláudia Guimarães, Nivio Ziviani e Ruy Flaks Schneider (para
reeleição); além de Omar Carneiro da Cunha Sobrinho e Paulo Cesar de
Souza e Silva, as novidades.
Recorrendo ao voto múltiplo, Abdalla e investidores estrangeiros
apresentaram Antonelli como alternativa e conseguiram desbancar um dos
nomes sugeridos pelo controlador - Maria Cláudia ficou de fora. A
assembleia, que começou às 15h da quarta-feira e acabou às 2h de quintafeira,
renovou o conselho com cinco novos nomes: Rosangela Buzanelli
(eleita pelos empregados), Rodrigo de Mesquita, Antonelli, Omar Carneiro
e PC de Souza e Silva.