São Paulo Futebol Clube lança fundo em meio a processo de reestruturação financeira
Por : Rita Azevedo
Fonte: Valor Econômico
O São Paulo Futebol Clube (SPFC) vai lançar um fundo de investimentos
em direitos creditórios (FIDC) como parte do processo de reestruturação
financeira do time. O fundo irá comprar recebíveis provenientes de
negociações envolvendo direitos de transmissão, direitos de nome e
patrocínios, e terá prazo indeterminado.
Como regra do fundo, o São Paulo terá que respeitar determinados limites nos
gastos. O dinheiro servirá para reestruturar o endividamento bancário e
otimizar as fontes de capital de giro, diminuindo o custo financeiro e
aumentando o prazo da dívida, segundo o clube. A operação foi aprovada nesta
quarta-feira pelo conselho do clube. Não foi informado quando será a primeira
emissão de cotas.
É a segunda vez que o “Tricolor Paulista” usa o instrumento para se financiar.
Em 2019, lançou um fundo baseado em fluxos futuros de caixa derivados de
um contrato de transmissão de jogos do Campeonato Brasileiro. O vencimento
ocorreu no ano passado.
“O fundo é o instrumento que precisávamos para que o clube possa começar a
sanar as dívidas atualmente existentes e que dificultam e atrapalham o fluxo de
caixa, com juros altos e vencimento de curto prazo”, diz Julio Casares,
presidente do São Paulo, em comunicado.
Segundo o executivo, com o fundo será possível reduzir o custo e preparar o
clube para o seu centenário com uma gestão mais sustentável, o que possibilitará
maior capacidade de competir com adversários com mais poder financeiro.
“Teremos um choque de gestão e já vamos implementar também um comitê
orçamentário para acompanhar o fluxo do São Paulo”, afirma Casares.
A estruturação do FIDC foi feita pelas gestoras Galapagos Capital, que tem
mais de R$ 21 bilhões sob gestão, e OutField, focada em estratégias e
investimentos no esporte. Para Andrea Di Sarno, sócio da Galapagos, a
operação acompanha uma tendência de aproximação dos clubes ao mercado de
capitais. Nesta semana, o Atlético Mineiro iniciou a primeira oferta de
debêntures do futebol da história, de R$ 105 milhões.
No caso do São Paulo, “os recursos que serão economizados poderão ser
investidos em performance esportiva, ou seja, mais tempo e mais dinheiro
focados no futebol”, afirma o sócio da Galapagos em comunicado.
“Ao passo que o esporte movimenta mais dinheiro, ele também vem se
sofisticando na forma de buscar financiamento. Nos EUA isso já é bastante
comum e agora vemos o futebol brasileiro indo pelo mesmo caminho”, diz
Pedro Oliveira, sócio-fundador da OutField. “É preciso entender que, apesar
do significativo aumento nas receitas, o alto endividamento dos clubes é um
sinal claro de que é necessário buscar alternativas mais eficazes para a
sustentabilidade financeira."
Além do São Paulo, outro clube que já captou recursos com FIDCs foi o
mineiro Cruzeiro. O chamado FIDC Zorro entrou em operação em fevereiro,
mas quatro meses depois foi liquidado. O Zorro incluía direitos creditórios
relacionados ao direito de imagem de jogadores do Cruzeiro e outros recebíveis,
como de cartão de crédito. Na primeira emissão de cotas subordinadas júnior,
foram levantados R$ 3 milhões, conforme informações da oferta pública. O
processo para uma nova captação estava em andamento, mas não chegou a ser
concretizada por decisão da gestão do clube.