05/02/2021

Produzir planeja futuro após concluir recuperação judicial

Por Marcela Caetano — De São Paulo
Fonte: Valor Econômico
O Grupo Produzir, que pertence à família Pinesso, encerrou em 20 de
janeiro o processo de recuperação judicial iniciado em 2015. Um dos
maiores produtores de grãos e fibras do país na época, o grupo tinha então
uma dívida de R$ 630 milhões, o que o fez recorrer ao mecanismo que
depois seria utilizado por outras grandes companhias do segmento, como
o Grupo JPupin. Com as cotações de grãos nas alturas, o grupo faz planos
para voltar a crescer.
“Perdemos o sobrenome da RJ”, comemorou o CEO do grupo, Bruno
Goellner. “Estamos com um projeto de retomada de crescimento. O melhor
de tudo é que o grupo saiu fortalecido”, disse o executivo ao Valor. No ano
passado, o faturamento do Grupo Produzir foi de R$ 436 milhões, 10,1%
(R$ 40 milhões) a mais que no ano anterior.
Parte do êxito na recuperação judicial se deve ao fato de que as dívidas do
grupo foram renegociadas considerando a cotação do dólar de R$ 3,14 e
convertida em reais. No fim do ano passado, o débito caiu para R$ 218
milhões. Com isso, foi possível reduzir a alavancagem (relação entre dívida
líquida e Ebitda), que era de 72 vezes, para 3,2 vezes.
Em 2015, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização
(Ebitda, na sigla em inglês) foi de R$ 13 milhões. No ano passado, alcançou
R$ 70 milhões. “Ter negociado com os credores e congelado o dólar nesse
patamar foi crucial para que o plano fosse cumprido”, afirmou Goellner.
O executivo assumiu o posto em abril de 2014, pouco antes do começo do
processo. O grupo deu início à profissionalização de sua gestão depois de
mais de 20 anos capitaneado Gilson Pinesso, que chegou a presidir o
conselho de administração.
Criado em 1955, o grupo tinha um faturamento anual de R$ 550 milhões,
em média. Seus problemas ocorreram na esteira da quebra da safra
2012/13, do aumento do dólar e das taxas de juros e da queda nos preços
das commodities no mercado internacional.
O plano de recuperação foi aprovado pelos credores em 2016. Dois anos
depois, ganhou um aditivo, que ampliou o prazo de pagamento para 20
anos e determinou um deságio de 30%.
Na prática, o grupo deve seguir cumprindo o plano, mas sem a fiscalização
do judiciário, explicou a advogada do grupo, Camila Somadossi, do
escritório Finocchio e Ustra Advogados.
No processo de reestruturação, o grupo se desfez de 18 mil hectares, sendo
uma fazenda de 5,7 mil hectares e o restante a devolução de áreas
arrendadas. Outras duas unidades estão em fase final de acordo para
venda.
Hoje, o Produzir conta com 147 mil hectares, dos quais 100 mil destinados
à produção de grãos em quatro fazendas em Mato Grosso do Sul, duas em
Mato Grosso e uma no Piauí. O grupo produz ainda 170 mil cabeças de
suínos por ano, em duas unidades, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
onde também tem três revendas de máquinas agrícolas.
Na safra 2020/21, o grupo semeou 20 mil hectares de milho, 48 mil hectares
de soja e 14,5 mil hectares de algodão. Da produção esperada, 90% da soja
foi negociada com o câmbio a R$ 5,50, 70% do algodão e 70% do milho.
Para 2021/22, 15% do algodão já foi vendido antecipadamente e 20% da
safra do cereal, com valores de R$ 130 a saca de milho e 78 centavos a R$
1,30 a arroba da pluma. Da safra de soja, 15% (ou 450 mil sacas) foram
negociadas antecipadamente, a R$ 140 a saca, em média. “Os preços estão
fantásticos”, destacou Goellner. Ele também disse que pretende antecipar
o pagamento de credores sem tomar novos empréstimos.
“Vamos começar a ter sobra de caixa para arrendar novas áreas. Temos
maquinário e estrutura de armazenamento ociosa que nos permitirá
crescer. O grande salto deve ocorrer em 2022”, projeta.