Petrobras discute escolha de novo diretor de compliance em meio a disputa por influência
Por: Malu Gaspar
Fonte: O Globo
O Conselho de Administração da Petrobras discute hoje a nomeação do novo
diretor de Governança e Compliance da companhia em meio a uma disputa de
bastidores entre ministros de Lula por influência na companhia. O mandato do
diretor atual, Mário Spinelli, termina no final de abril, e ele não será
reconduzido. O escolhido deverá ser o auditor da Corregedoria-Geral da União
(CGU), Ricardo Wagner de Araújo, indicado pelo ministro da CGU, Vinícius
Carvalho.
Nos últimos meses, Spinelli, que é ligado ao ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, acumulou divergências com a presidente da Petrobras, Magda
Chambriard – uma delas em torno da reativação da fábrica de fertilizantes da
companhia no Paraná. Spinelli seguiu pareceres do jurídico da própria estatal e
votou contra a recontratação de 240 funcionários da fábrica – que acabou sendo
aprovada por maioria.
Outro assunto que desgastou a relação dos dois foi a discussão em torno da
desativação da plataforma P-31. Magda era contra a desativação, recomendada
por um relatório interno, porque isso implicaria incluir os custos no balanço da
Petrobras -- o que pioraria os resultados da empresa.
O assunto foi alvo de debate interno por mais de um ano, e foram feitos
diversos relatórios, até que o último definiu que a plataforma não precisava ser
desativada . Spinelli defendeu o primeiro relatório.
Magda também se incomoda com as regras do canal de compliance,
especialmente com o fato de que os denunciantes tem garantia de anonimato.
Acha que essa garantia leva ao aumento de reclamações e acusações que ela
julga irresponsáveis.
Após uma série de ruídos entre os dois, a CEO deu início a um processo seletivo
para o cargo que não incluiu Spinelli. A presidente defendia a escolha do chefe
de auditoria da empresa, André Santos.
Os presidentes da Petrobras desde o primeiro governo Lula
Desde o primeiro governo de Lula, empresa teve onze presidentes. Magda
Chambriard é a 12º
Mas ele não foi aceito nem pelos pelos conselheiros minoritários, nem pelo
indicado pelo Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux, e nem pelos integrantes
do conselho ligados ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
O diretor de compliance é um cargo chave por gerenciar o canal de denúncias
contra desvios éticos e de integridade, que, por sua vez, deve ser mantido sob
sigilo rigoroso - ele tem mandato de dois anos justamente para que possa atuar
com independência.
Ao final, Magda teve que aceitar a indicação de Ricardo Wagner, que além do
processo seletivo formal da companhia passou também por uma espécie de
“seleção paralela” entre os políticos com influência na empresa – incluindo o
ministro Silveira, que recebeu o corregedor para uma conversa antes da votação.
Nas últimas semanas, Haddad ainda se movimentou nos bastidores para tentar
a recondução de Spinelli, mas Magda fechou questão.
A escolha de Wagner, que deve ser chancelada na reunião do conselho desta
sexta, é uma espécie de meio-termo que pacifica os diversos feudos que
disputam poder na companhia – mas só até a próxima batalha.