O suposto esquema do ‘copia e cola’ das verbas fraudadas na Americanas
Por: Adriana Mattos
Fonte: Valor Econômico
Em 9 de março de 2019, Maria Christina Nascimento, com 35 anos de
Americanas, e na empresa desde 1984, diz a Paula Faria, do suporte comercial,
que precisava urgentemente resolver um problema nas autorizações fictícias de
verba de propaganda cooperada (VPC) da indústria.
“Colgate e Multilaser estão com 2 assinaturas cada um e idênticas. E na
mesmíssima posição da linha e no mesmo enquadramento”, dizia Nascimento,
que era chefe de Faria no departamento, em mensagem de Whatsapp. O mesmo
se repetia na nota da L’Oreal.
Faria rebatia dizendo que isso se repetia porque era sempre a mesma pessoa que
costumava assinar os contratos entre os fornecedores da Lojas Americanas, mas
Nascimento queria uma solução rápida.
“Embora seja a mesma pessoa, ela não ia colocar a assinatura exatamente igual
na linha destinada a assinatura. Me ajuda!! Preciso sanar isso hj ”, pedia a chefe.
Pelo sistema de fraude, as assinaturas dos executivos dos fornecedores eram
recortadas digitalmente de contratos verdadeiros, arquivados na empresa, e
aplicados nos contratos falsificados.
A questão é que as assinaturas reproduzidas ficavam, naturalmente, idênticas
nos falsos acordos. E isso poderia levantar suspeita dos auditores, que
checavam os contratos por amostragem.
As mensagens estão em pedido de medida cautelar da Polícia Federal enviado
à Justiça na semana passada e obtida pelo Valor. No dia 27, a PF pôs na rua a
“Operação Disclosure” com 15 mandados envolvendo ex-diretores da rede.
Segundo investigações do Ministério Público Federal (MPF) e da PF, havia um
sistema de produção de contratos de verbas falsas em série na operação on-line
da B2W (Submarino, Shoptime, Americanas.com), e na Lojas Americanas, e
com aval da alta diretoria da época.
O delator Marcelo Nunes disse ao MPF que, em 2021, foram R$ 1,4 bilhão em
verba de propaganda cooperada, para receita líquida anual de R$ 27 bilhões.
Nunes não relata se tudo se tratava de fraudes.