Juca Abdalla, que já tem cadeira no conselho da Petrobras, quer uma também na Eletrobras
Por Gabriel Vasconcelos
Fonte: O Estadão
RIO - O megainvestidor José João Abdalla Filho, o Juca Abdalla, quer um
assento no conselho de administração da Eletrobras, mas enfrenta
questionamentos por já integrar o colegiado da Petrobras e não querer deixálo,
disseram ao Estadão/Broadcast pessoas com conhecimento do assunto. A
empresa também confirmou a candidatura de Abdalla em fato relevante
enviado ao mercado.
Pelo menos desde o ano passado, Eletrobras e Petrobras se consideram
formalmente concorrentes, sobretudo depois que a petroleira anunciou planos
de transição energética, que envolvem um aumento do negócio de geração
de energia elétrica. Isso tem criado dificuldades práticas para executivos que
desejam manter um pé em cada canoa.
Abdalla, apurou o Estadão/Broadcast, não assinou nenhum documento se
comprometendo a deixar a Petrobras, caso seja aprovado para o conselho da
Eletrobras. Esse procedimento foi adotado, por exemplo, pelo atual diretor de
Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, um dos três nomes
indicados pelo governo, na quinta-feira, 27, ao colegiado da Eletrobras.
Caso receba de fato os votos do governo na assembleia de acionistas do
próximo dia 30 de abril e seja aprovado na Eletrobras, Tolmasquim se
comprometeu por escrito a deixar a petroleira, como mostrou o
Estadão/Broadcast.
A Eletrobras exige conformidade dos indicados com os critérios presentes na
lei das SA (6.404), que tem expresso no seu artigo 147 a proibição da eleição do
conselheiro que “ocupa cargos em sociedades consideradas concorrentes no
mercado, em especial, em conselhos consultivos, de administração ou fiscal” —
o caso de Abdalla. Mas o próprio texto abre exceção para aquele que tiver
“dispensa da assembleia-geral”, prerrogativa na qual o empresário se apoia.
A Eletrobras confirmou que o investidor é candidato ao conselho de
administração da companhia e pediu uma espécie de “waiver” (dispensa) das
regras de elegibilidade para disputar vaga no colegiado.
Em fato relevante enviado à CVM, a Eletrobras tornou pública a justificativa
de Abdalla para pleitear a vaga no conselho de administração e acumular as
posições nos colegiados das duas companhias que hoje se consideram
concorrentes.
No documento, Abdalla reconhece que sua eleição está condicionada à
“eventual dispensa prévia pela assembleia geral” dos critérios de elegibilidade
previstos na Lei das S/A (6.404) seguidos pela Eletrobras.
Ele defende o seu pleito sob o argumento de que é investidor de longo prazo
da empresa com participação relevante e se compromete a não participar de
discussões que possam se relacionar à Petrobras, onde pretende seguir atuando.
“Sou um investidor da Eletrobras de muitos anos, detenho uma participação
relevante. Além disso, me comprometo a não participar de decisões que possam
se relacionar com a Petrobras ou que gerem algum contexto concorrencial”, diz
Juca Abdalla.
Cemig
Ainda que não abra mão de estar no board da Petrobras, Abdalla renunciou à
cadeira que mantinha no conselho de administração da Cemig, para reduzir o
estresse de uma candidatura na Eletrobras. A avaliação é de que a companhia
tem concorrência mais marcada com a Eletrobras.
Formalmente, o Fundo de Investimento em Ações Dinâmica, controlado pelo
Banco Clássico, de Abdalla, indicou ao conselho de administração da Eletrobras
tanto seu nome quanto o do advogado Marcelo Gasparino, que já integra o
colegiado e poderia ser reconduzido. Segundo pessoas a par do processo
eleitoral, o FIA Dinâmica não tem votos suficientes para eleger os dois
executivos.
Quem é Juca Abdalla
O bilionário José João Abdalla Filho – ou Juca Abdalla – é um dos maiores
investidores individuais no País. Aos 77 anos, ele nunca é visto nas rodas da
elite carioca. Recluso, de poucos hobbies, muito discreto e distante dos luxos
comuns para quem tem bilhões de reais, é o nome por trás do Banco Clássico.
Abdalla é também o maior acionista individual brasileiro da “nova” Eletrobras.
Sua posição só é inferior à da gestora 3G Radar – que tem entre seus sócios a
3G Capital, de Jorge Paulo Lemann.
Abdalla é o único dono do Banco Clássico, instituição com R$ 2,8 bilhões de
patrimônio líquido e ativos de R$ 14,5 bilhões, conforme dados do Banco
Central. O banco também tem um único cliente: o próprio Abdalla,
funcionando como uma holding de seus investimentos.
Na sua carteira de investimento, que começou a montar há mais de duas
décadas, aparece uma preferência pelas empresas do setor energético e estatais,
tradicionalmente boas pagadoras de dividendos. Engie, Cemig (na qual também
tem cadeira no conselho de administração) e Kepler Weber são algumas das
ações selecionadas. Também investe na Naturgy, controladora da Companhia
Estadual de Gás (CEG), do Rio.