Aumenta o número de companhias abertas com pedidos de RJ
Por: Fernanda Guimarães
Fonte: Valor Econômico
Mais de vinte empresas de capital aberto estão envolvidas em processos de
recuperação judicial ou extrajudicial, número que tende a crescer em 2025 à
medida que mais companhias estão perdendo o fôlego financeiro para o
pagamento de dívidas como reflexo do cenário de aumento de juros na
economia. O pano de fundo é uma crise financeira corporativa no país, com
mais um recorde de “RJs” se esboçando para o ano, conforme especialistas
consultados pelo Valor.
Dentre casos mais recentes estão Bombril e Agrogalaxy, mas a lista engloba
também casos emblemáticos como a Oi, em seu segundo processo, e a
Americanas, que pediu proteção à Justiça tão logo se tornou pública a bilionária
fraude contábil. No geral, os processos das empresas de capital aberto se
destacam pelo tamanho da dívida envolvida, o que os posiciona entre os
maiores do país, mas também pela divulgação mandatória de informações
financeiras, o que acaba jogando mais luz sobre os problemas. Fora isso,
indicam a situação das empresas menores, que tende a ser mais delicada.
Considerando as 52 empresas que compõe o Ibovespa que já divulgaram seus
resultados referentes a 2024, conforme levantamento feito pelo Valor Data, a
média de alavancagem foi de 1,47 vez para 1,64 vez.
A sócia do escritório Felsberg, Fabiana Solano, afirma que a crise financeira nas
empresas, incluindo aquelas mais robustas, tende ainda a se agravar. “Essa
constante alta de juros e instabilidade global acabam gerando reflexos imediatos
às companhias”, diz. Segundo a especialista, mesmo que a situação ainda seja
mais delicada entre empresas menores, as companhias listadas estão com nível
de endividamento importante. “Entre as listadas o momento é de cautela e de
atenção também.”
Ainda dentre os processos englobando as listadas, estão a OSX, de Eike Batista,
que entrou pela segunda vez com pedido e recuperação judicial, a exemplo da
Oi. A empresa do setor de energia Light também atravessa um processo, desde
2023. A empresa do setor têxtil Teka, por sua vez, há mais de dez anos em
recuperação judicial, teve seu pedido de falência decretado recentemente. O
número só não é maior porque algumas empresas conseguiram reestruturar seus
vencimentos em negociações bilaterais, como a Azul e Infracommerce. Já a
Aeris, de pás eólicas, e a Viveo, investida da família Bueno (dona da Dasa),
também negociam com credores, na intenção de ajustar os vencimentos para se
evitar outras medidas.
No geral, as empresas listadas têm acesso mais amplo a linhas de crédito, tanto
as bancárias, mas também aos títulos de dívida disponíveis no mercado de
capitais, segmento que segue bastante aquecido devido à demanda dos
investidores por papéis de renda fixa. Por outro lado, a emissão de ações das
empresas listadas está paralisada, espelhando um momento de aversão ao
mercado de renda variável e de fuga de capital dos fundos de ações. A única
emissão em quatro meses será a da Caixa Seguridade, um caso já bastante
esperado e específico, visto que sua motivação para a oferta é exclusivamente
ajustar a liquidez de suas ações às regras da B3.
Pela regra vigente, as empresas listadas que entram em recuperação judicial são
excluídas dos índices teóricos da B3, mas continuam com suas ações
negociadas. Essa regra foi incluída após a última reforma do Ibovespa há mais
de uma década, que ocorreu na esteira da derrocada do grupo X, que tinha
naquele momento diversas empresas entre as mais líquidas da bolsa.
O sócio da área de reestruturação do escritório Lefosse, Roberto Zarour,
lembra que, ao contrário das empresas de capital fechado, as listadas precisam
também se atentar às regras de divulgação de informações ao mercado, por
meio de fatos relevantes e comunicado ao mercado. O equilíbrio é, lembra,
seguir as obrigações ao mesmo tempo em que mantém a confidencialidade
inerente a determinadas negociações.
Marcelo Ricupero, sócio da área de reestruturação do escritório Mattos Filho,
afirma que o aumento do número de casos entre empresas abertas mostra que
nenhuma companhia está imune à atual turbulência. “A tendência é de aumento
de número de casos”, afirma.
Zarour, do Lefosse, aponta que o número de reestruturação de dívidas nas
listadas, que possuem mais governança e acesso a crédito, traz à tona o
problema das demais empresas, que de forma geral se endividaram mais no
momento de juros mais baixos e foram pegas, no ciclo de alta, no contrapé.
Acredito que em 2026 a situação será ainda pior, há muita empresa equilibrando
pratos”
— Laura Bumachar
A sócia do escritório Dias Carneiro Advogados, Laura Bumachar, lembra que
as empresas se endividaram nos últimos anos e que a conta chegou. “Acredito
que em 2026 a situação será ainda pior, há muita empresa equilibrando os
pratos. Vai vir uma nova avalanche”, diz. Segundo ela, no escritório tem
chegado muitos novos casos, não só de recuperação judicial e extrajudicial, mas
também de falência.
A Agrogalaxy, Americanas, Oi e OSX não comentaram. A Bombril não
respondeu.